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por Fabio Barros - terça-feira, 20 jun. 2023, 11:15
Todo o mundo


O rápido crescimento da inteligência artificial nos últimos anos tem sido impressionante. Chatbots como o GPT têm sido capazes de gerar textos com uma qualidade cada vez maior, tornando-se quase indistinguíveis de textos escritos por humanos. No entanto, com esse crescimento rápido surgem também riscos, incluindo a possibilidade da IA substituir trabalhadores humanos e a preocupação de que ela possa se tornar descontrolada e causar danos significativos. Essas implicações são especialmente relevantes para a educação, onde há uma preocupação crescente de que a IA possa substituir professores e outros trabalhadores educacionais. No entanto, há também oportunidades para a IA ser usada para melhorar a educação, como fornecer feedback personalizado aos alunos e ajudar os professores a identificar áreas em que os alunos precisam de mais ajuda. É importante que as escolas e as instituições educacionais estejam cientes dos riscos e benefícios da IA e usem-na de maneira responsável e eficaz para melhorar a educação.

Para termos uma ideia do que vem por aí, o parágrafo que acabou de ler foi escrito pelo chatgpt e apenas copiado e colado por mim! 

Chatgpt

Autor: Sanket Mishra https://www.pexels.com/pt-br/foto/conta-ia-artificial-falso-16461434/


Tranquilo (ou não!), pois a partir de agora, sou eu quem escrevo.

Uns mais assustados, outros menos, estamos presenciando o crescimento vertiginoso da chamada Inteligência Artificial (IA) em muitos seguimentos. A chamada IA generativa, que inclui os chatbots de conversação em "linguagem natural" como o chatgpt e outros, permitem a criação de textos, imagens, livros, cursos, poesias, peças de teatro, música, diálogos e conversas que até então eram privilégios do exercício criativo da mente humana. Hoje não mais. E a cada dia em maior quantidade e qualidade, estes sistemas informáticos podem quase instantaneamente produzir conteúdos, informações e materiais, de forma antes impensáveis, e mesmo não permitindo diferenciar se são criações da máquina ou de um ser humano.

Há previsões mais ou menos catastróficas em termos de impactos sociais (desemprego, manipulações em massa, riscos à democracia, implicações éticas etc) e outras mais otimistas, com relação a diminuição da carga de trabalho, auxílio na escrita de textos, acesso a informações com mais facilidade etc.

Para quem quiser aprofundar a discussão mais geral sobre a inteligência artificial, mitos e verdades, sugiro a entrevista de 20 minutos com o experiente cientista brasileiro Miguel Nicolelis.



Convite à reflexão


O objetivo deste texto é pensarmos juntos sobre os impactos da IA, fundamentalmente na educação, afinal, é a área que nos toca e para a qual nos dedicamos, seja como estudantes, técnicos, professores, gestores, pesquisadores ou pais. 

Se do ponto de vista do exercício da profissão de professor, do emprego, das instituições de ensino, dos usos e abusos da IA temos muito que pensar - e agir, o foco deste texto é mais sobre o processo de ensino-aprendizagem, elemento central (ou deveria ser!) do processo educativo, da formação. Embora tudo e todos estejamos conectados, e não é possível pensar educação formal de qualidade sem professor, convido-o à reflexão sobre os impactos da IA na aprendizagem.

Passamos quase diretamente da fase da "Educação em tempos de pandemia" que provocou uma sacudida nos alicerces da formação, da ressignificação e ampliação do conceito de Presença (como veremos mais adiante), para a era da "Educação em tempos de Inteligência Artificial". 

Para incrementar as reflexões, sugiro a leitura de um texto muito bom sobre o assunto, do colega Alex Bretas: A história não contada da inteligência artificial generativa.

O ato de aprender não se resume a consumir informações. Ao contrário, o excesso de informações (ansiedade informacional), pode ser considerado como inibidor da aprendizagem. Para aprender, de acordo com as neurociências, é preciso tempo de elaboração da informação, estabelecimento de pontes e sentidos, é preciso interesse, diálogo, análise. O que a IA oferece majoritariamente é uma enxurrada de informações, criada a partir de uma análise de dados em massa nunca antes vista em forma de conversa que simula a "linguagem natural".

Do ponto de vista do acesso as informações, há uma facilitação, que traz em si riscos de controle e manipulação da informação que é oferecida, excluindo a diversidade e discordâncias, em busca de uma resposta única definida ao gosto das grandes corporações que controlam os algoritmos. Isso, em si mesmo, representa um risco grande de empobrecimento da capacidade de análise e raciocínio no processo educativo, entre outras consequências sociais.

Já é possível criar textos, trabalhos acadêmicos, responder questões discursivas ou mesmo criar um curso completo com conteúdos e questões de múltipla escolha a partir de pequenas perguntas (comandos/prompts) na IA generativa. E vamos ver isso em escala... cada vez mais, e por outro lado, o que será cada vez menos visto, mais raro, é a criação artesanal, criativa, genuína e autenticamente humana.


Morte anunciada da educação bancária

Paulo Freire, nos anos de 1970 já denunciava o que se convencionou chamar de educação bancária, ou conteudista. Uma educação baseada em conteúdos sem sentido para a aprendizagem e para a vidas das pessoas, que ajudava a manter a relação social entre oprimidos e opressores. Nas últimas décadas o excesso de informações e conteúdos, sem tempo para análise e reflexão, tem se tornado cada vez mais em um elemento de alienação, de dissociação da realidade concreta, das relações de exploração, do distanciamento entre as pessoas. 

Com a geração infinita de novos e mais sofisticados conteúdos por meio da IA, entraremos cada vez mais na corrente de milhões de informações na ponta dos dedos, como um feed que nunca pára e não deixa nenhum tempo ou espaço para habilidades extremamente necessárias de análise, elaboração, criação, crítica, entre outras.  

A educação conteudista, que pode ter tido alguma serventia quando havia dificuldades de acesso à informação nas épocas do mimeógrafo ou do retroprojetor, a partir da popularização do acesso à internet, computadores de mão e agora em progressão geométrica com a IA generativa, perde totalmente o sentido. A informação é cada vez mais ubíqua, presente a todo tempo e em todos os lugares. A antiga educação que transmitia e avaliava a memorização e reprodução de conteúdos não tem mais sentido algum de existir. E aquele professor que restringia seu trabalho em reproduzir apenas informações e conteúdos no quadro ou em power point, como uma máquina desumanizada de ensino, será substituído com sucesso pela IA, que faz isso de forma interativa e personalizada com acesso a uma quantidade virtualmente infinita de dados em constante atualização.


Educação em tempos de Inteligência Artificial


Se não é a informação que nos faz falta, o que é então? Qual deve ser o foco da educação, do professor, nestes novos tempos hiper conectados?

Em tempos de pós-verdades, de fake news e deep fakes (vídeos e imagens falsas), de desinformação em larga escala, de saturação e de bolhas de informações, o que nos falta é a consciência de si mesmo (atenção plena) e do outro (alteridade), consciência social e coletiva, ecológica, capacidade de análise crítica, de construção criativa e artística, de resolução de problemas da realidade, de diálogo, reflexão e elaboração do pensamento humano.

É preciso retomar a essência da educação, com a importância da Presença integral (digital ou física, cognitiva, consciente, social, afetiva, histórica, transpessoal), da Conexão (diálogo, colaboração, interação, criação coletiva), e da Elaboração (do criar, criticar, refletir, analisar, pesquisar). Neste sentido, as práticas educativas devem valorar o processo de construção de tudo que envolve este tripé: Presença integral, Conexão e Elaboração.

Isso significa, em termos práticos para o ensino-aprendizagem, para professores e alunos, que é preciso definir objetivos de aprendizagem,  dar notas, desafiar e acompanhar os alunos no desenvolvimento de competências relacionadas aos níveis mais altos da taxonomia de Bloom (revisada), quais sejam: criação, avaliação e análise, e também aplicação, orientados pelo tripé da presença, conexão e elaboração.

Enfase nos processos dialógicos de aprendizagem, na dimensão ética do cuidado humano do professor,  porque é na qualidade de cada passo da aprendizagem humana que se garante a qualidade dos resultados, e não ao contrário.  Obviamente, também, a incorporação crítica do mundo digital, a inclusão digital, das tecnologias, da IA, devem fazer parte do processo educativo, para que sejamos nós humanos a utilizar a IA, e não o contrário.

Sinta-se à vontade para deixar seu comentário.


[ Modificado: quarta-feira, 21 jun. 2023, 12:37 ]